sábado, 24 de maio de 2014

Crescendo e formando em turismo: qual o futuro?

Texto originalmente publicado no jornal Cruzeiro do Sul, de Sorocaba, em 20 de maio de 2014. Caderno de turismo, p. 07. 

Participação do turismo na economia  nacional.
Fonte: MTur/PNT 2013-2017
Ao tratar de turismo, falamos em criação de novas frentes de trabalho e emprego; geração de divisas; redução das desigualdades regionais; construção do sentimento de pertencimento, bem-estar e identidade nacional; meio de salvaguarda do patrimônio material e imaterial, entre outras coisas. Desde a inserção de comunidades locais no mundo do trabalho ao incremento no fluxo de capital e de pessoas, o turismo é pensado para além de uma atividade econômica. Mas o que normalmente se esquece (mas que vem se discutindo cada vez mais na Academia) é que ele é, antes de tudo, um fenômeno social, de pessoas. E pode ser visto como possibilidade de mudança social. Mas será que o turismo pode dar conta de todas essas expectativas? Como, afinal, isso se configura hoje?

Em linhas gerais, dizemos o turismo existe desde a Revolução Industrial (ou seja, a partir do século XIX) quando passamos a exigir o tempo livre como um direito do trabalhador. É, portanto, no modernismo capitalista que o turismo se transforma em atividade de massa. Contudo, as viagens e os deslocamentos sempre existiram enquanto prática social. Na pré-história, vivíamos o nomadismo, pois as pessoas precisavam sair para procurar comida; na Antiguidade, atravessávamos fronteiras para dominação de outros povos; na Idade Média, tivemos as peregrinações religiosas e, enfim, as grandes navegações.

Esta contextualização nos parece muito clara porque vivemos em um mundo eurocêntrico. Mas e aqui, no Brasil, como olhamos para o turismo como fenômeno em transformação?

Geyzon Lenin/ Jornal de Brasília
Há pelo menos quatro décadas temos discutido no país o turismo. Sabemos que as tendências na área associam-se a questões econômicas, políticas, sociais, demográficas e tecnológicas e que, ainda estamos muito aquém daquilo que podemos oferecer a partir de nossa oferta diferencial (os atrativos turísticos). Em 2003, foi criado o Ministério do Turismo e, em 2008, a implantação da Lei Geral do Turismo. De lá pra cá, três grandes Planos Nacionais de Turismo (PNT) têm-nos oferecido as diretrizes para o planejamento de ações no país, desde a descentralização e municipalização à regionalização da atividade, bem como vislumbrando a inclusão social e a emergência do Brasil enquanto potência internacional. Parece-nos, assim, que, no que diz respeito a políticas, temos avançado. Contudo, há que se perguntar como a formação específica na área está (ou não) se vinculando com esse novo momento do Turismo no Brasil.

Alinhados ao crescimento da indústria do turismo, já aos finais do século XX e início do XXI, tivemos no Brasil um boom no número de cursos superiores na área. Em uma década saltamos de 27 para 230 cursos superiores, contudo, a previsão de Mário Jorge Pires, numa análise relatada à Folha de São Paulo na época, se confirmou; boa parte desses cursos não se sustentaria. Hoje - quando atingimos cinco milhões de turistas estrangeiros no Brasil -, o número de instituições de ensino que ofertam o curso, em geral, é menor - ao mesmo tempo que, lentamente, cresce a oferta de cursos de turismo de nível tecnológico e bacharelado em instituições públicas (como o da UFSCar, implantando em 2006). Portanto, mão-de-obra qualificada, tanto para o planejamento, quanto para a execução dessas políticas e atuação no trade, existe e continuará a existir.

Além disso, atualmente um dos eixos tecnológicos do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), está compreendido na seção de "Turismo, Hospitalidade e Lazer", inclusive, com cursos e capacitações direcionados aos mega-eventos Copa do Mundo e Olimpíadas.

O que nos falta saber é como estamos congregando a formatação dessas políticas com a produção dessa mão-de-obra qualificada. Será que o Estado está dando conta disso? Será que a iniciativa privada têm se atentado aos diferenciais de uma atividade bem planejada e com profissionais que investiram na área? Infelizmente, parece-nos que nesse breve processo histórico do turismo no Brasil, não conseguimos alinhar tais avanços. O que vemos, nesse sentido, é que mesmo criando políticas públicas para o desenvolvimento do turismo e formando profissionais qualificados na área, não nos atentamos à construção de um processo conjunto. Não se trata de reserva de mercado, como talvez um leigo entenda, está na hora do próprio Estado (Ministério do Turismo, secretarias estaduais e municipais) assumir os filhos que gerou, e a iniciativa privada reconhecer.



Posto isso, acreditamos que, sim, o turismo pode dar conta de todas ou boa parte das expectativas que trouxemos no início do texto, mas não, necessariamente, de imediato. Ao seu tempo os fenômenos sociais - como o turismo - vão se moldando ao que reproduzimos enquanto sociedade. Defendemos que basta alinharmos as estratégias à luz de uma mudança social, a qual só pode ocorrer entre a interação das políticas e seus atores - aí incluídos, obviamente, os bacharéis em turismo, os técnicos e profissionais capacitados na área. 

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